Time do Povo

O Corinthians no começo foi uma utopia. Da fundação ao primeiro jogo, do primeiro jogo à primeira vitória, e desta primeira vitória ao título de Galo da Várzea e ao acesso ao futebol da Liga, de 1910 a 1913, a cada dia o Corinthians precisava "matar um leão". Aquela "brincadeira" ia se tornando muito séria.

O Corinthians tinha a oferecer o grande entusiasmo da torcida e a certeza de que estaria jogando em um time de gente boa de bola. E que mesmo sendo bom de bola, não afinaria nas dívidas. O Coringão se estruturou com jogadores que davam o sangue no campo, suavam a camisa desde o primeiro minuto, e essa característica formou a índole da Raça Corinthiana.

De César a Grané, de Jaú a Idário, de Carbone a Zé Maria, de Wladimir a Wilson Mano, por tudo o que cada Guerreiro fez pela Tradição Corinthiana, ainda hoje a Fiel sabe perdoar muitas fraquezas do time, menos o pecado mortal do corpo mole, e da falta de fibra.

Ainda em 1910 o presidente Miguel Bataglia deixava nas mãos de Alexandre Magnani um time, um jogo de camisas, bola, um campo, um estatuto e muitos sócios, número que aumentava dia a dia, para se tornar imbatível na várzea de Piratininga e conhecido em sem-número de cidades interioranas brasileiras. Essa infância do Corinthians se perdeu, como as primeiras atas, a paisagem do Tietê, as chácaras, e as várzeas. Pouco restou deste período.

Em 1913 estava a ponto de encarar os grandes clubes do futebol. Não queria nada mais que ter o direito de mostrar seu jogo, de enfrentá-los de igual pra igual. Mas para isso teve de sobrepujar não apenas as dificuldades inerentes à própria frágil estrutura, como também o clima de exacerbação que afetava o futebol Paulista.

Um clube de operários não podia ter outras pretensões que não fosse se divertir pelas várzeas da cidade. Era um tabu. O Corinthians quebrou esse tabu, passou a ser o grande divisor de águas na história do futebol brasileiro, mas sem dúvida teve de fazer das tripas coração.