segunda-feira, 4 de maio de 2009

ACERVO


Final do Paulista de 1977: “Basílio fez o gol, e a Terra tremeu”

“Eu dei o cano no serviço em 14 de outubro de 1977, uma quinta-feira de primavera. E por um um sério motivo. Tinha muito o que comemorar. Na noite anterior, assim como 123 mil corinthianos, fiquei alucinado e rouco de tanto gritar "é campeão". O Timão havia conquistado o tão sonhado título paulista, após 23 anos de espera. O "seo" Alencar, meu chefe, outro alvinegro fanático, abonou a falta no trampo.

Na quinta-feira, acordei cedo, peguei a enorme bandeira do Timão, de quatro metros quadrados, e desfilei com ela, a pé, no bairro onde moro até hoje. A bandeira, feita pelo meu primo Vitor, um artista-desenhista, já falecido, era branca e tinha o distintivo do Timão no meio. Nas laterais estava escrito, em tinta preta: Pudins de Itaquera. Na época, pudim era o apelido daqueles que gostavam de tomar umas brejas e também cachaça.

E foi o que eu fiz naquele dia de "folga". Andei pelas ruas itaquerenses, um bairro predominantemente corinthiano. Fui até a casa da minha namorada, a Noeminha. Eu tinha 19 anos e ela, 18. Tomamos todas. Foi com a Noeminha que eu assisti à estréia do genial Doutor Sócrates no Timão. O jogo foi em 1979, no Pacaembu, o templo do Corinthians, o mais querido do mundo. Vencemos a Ferroviária de Araraquara por 2 a 0 e o elegante Magrão balançou a rede naquele dia. Noeminha nunca havia ido a um estádio. O pai dela, "seo" Marinho, não deixava. Fomos escondidos. Ficamos atrás do gol do portão de entrada. Ela adorou.

Na sexta-feira, 15 de outubro de 1977, fui trabalhar, ainda com o mesmo ar de felicidade estampado no rosto. Meu chefe e os amigos corintianos me abraçaram. Eles já tinham feito o mesmo gesto comigo, um ano antes, em dezembro de 1976, quando fui à invasão no Maracanã. E naquele mesmo mês de outubro de 1977, mas no domingo, dia 10, eu também estava no Morumbi, com a mesma bandeira e junto com meu irmão Jonas, meu primo Mário e os amigos Dinho e Edson. Chegamos cedo ao estádio. Mas o Morumbi, palco de tantas glórias corintianas, estava lotado. Tinha 138 mil fiéis loucos pelo Timão. Conseguimos ficar esprimidos rente à grade de proteção. Tinha corinthianos do Brasil inteiro. Um paranaense queria minha bandeira de qualquer jeito. Ele implorou, mas não teve jeito. Perdemos de 2 a 1 para a Ponte Preta.

Porém, sabíamos que na quarta-feira seguinte, o grito entalado na garganta ecoaria pelo Morumbi e alcançaria o mundo. Foi o que aconteceu. Basílio fez o gol, e a Terra tremeu, estremeceu. Foi uma das festas mais lindas da maior torcida do mundo. O estádio foi invadido por milhares de alvinegros. Quase não dava para enxergar o gramado. Só uma torcida pode proporcionar esse espetáculo. Tanto nas alegrias como nas tristezas. O dia 13 de outubro de 1977 não sairá da minha memória. Até mesmo em outra vida. E se eu morrer e nascer de novo, nascerei corinthiano outra vez.”

JOSMAR JOZINO é jornalista e foi convidado pelo “Informativo” para relembrar uma das finais mais marcantes da história do Sport Club Corinthians Paulista, a do Paulistão de 1977.

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